Lesado

por eduardopmorris

Por mais atentado que fosse, coordenação motora nunca foi o meu forte, talvez uma coisa não tenha nada a ver com a outra, mas não achei outra forma de começar este conto!  🙂

Quando estava na antiga terceira série do primeiro grau (não sei qual o equivalente atual) tive problemas sérios por não ter uma boa coordenação motora, por exemplo, era o único da minha sala a não saber dar um laço no cadarço do tênis, pode ser uma coisa boba, mas depois que você fica conhecido como cabeça de sabão, fica meio difícil agüentar qualquer tipo de zoação, mas a impressão que eu tinha era que tudo era motivo pra levar as forras as minhas armações.

Certa vez passei um perrengue por não saber amarrar o tênis. Lá estava eu brincando de futebol de tampinha de garrafa no pátio quando pisei no meu cadarço e cai igual uma jaca no chão, como o futebol de tampinha era uma correria da porra de um monte de moleque, quase fui pisoteado, só deu tempo de escorar a queda com as mãos e logo depois botar as mesmas mãos na cabeça pra ninguém pisar nela. Quando passaram por mim correndo, me levantei calmamente e me afastei pra dar um jeito no cadarço, a idéia inicial era dar um monte de nós, mas quando imaginei que meu tênis ia ficar parecendo uma menina cheia de tranças, desisti da idéia, engoli meu orgulho e fui procurar a minha professora pra ela me ajudar a amarrar o tênis, porem não achei ela então fui perguntar pra professora do meu irmão onde estava a minha professora, mas antes dela me responder, como eu esperava, ela me devolveu outra pergunta: “O que você quer com ela?”. Eu com toda minha inocência respondi que precisava que ela me ajudasse a amarrar o cadarço, e na hora a professora do meu irmão deu um berro: “OOOOOO QUEEEEEEEEEEE, VOCÊ NÃO SABE AMARRAR SEU TENIS SOZINHO?!?!?!?”. Fiquei todo sem graça na hora, não sabia onde me esconder, então fiquei lá com cara de concha e sem ação, enquanto isso a professora do meu irmão ria da minha cara e as outras professoras ficavam com cara de “que menino lesado”. Dessa vez eu ia chorar, juro! Mas quando isso estava prestes a acontecer, chegam a madrinha do meu irmão e minha professora, não sei bem o que elas estavam fazendo, nem o que elas ouviram da minha mini humilhação, mas minha professora me pegou pela mão e me levou pra longe dali, antes de sair ainda ouvi a madrinha do meu irmão perguntar que palhaçada era aquela, mas não sei o que rolou mais, pois logo depois desci as escadas e entrei na sala da diretoria da escola. Lá a minha professora amarrou meu tênis sem falar uma palavra, quando terminou me deu um abraço e disse que sentiria falta do menino maluquinho dela. Não entendi nada daquilo na hora, e nem tive tempo, pois logo depois a madrinha do meu irmão chegou e disse que iria conversar comigo, nisso minha professora saiu da sala e infelizmente nunca mais a vi, mas o nome dela eu lembro mesmo depois de mais de 30 anos, Maria Olímpia. 😉

A conversa com a madrinha do meu irmão teve um tom sério, mas sem ser de briga, ela me disse que eu precisava aprender a me virar sozinho, pois nem sempre ela estaria por perto pra me ajudar, e que por mais atentado que eu fosse, ela sabia que aquilo era coisa de criança, então ela calmamente desamarrou meu tênis e me fez sentar no chão pra que eu aprendesse a começar a me virar sozinho.

Só fui entender o porque daquela conversa alguns meses depois, pois aquele era meu último ano naquela escola que ainda hoje considero como minha casa e talvez por isso me sentia com liberdade pra aprontar tanto.